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"O HOMEM DO CASTELO ALTO"

  • ogladio2024
  • 15 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 22 de nov. de 2024

Liga Acadêmica de Direito Internacional - Brayan Mello


Hegemônico, porém decadente, o império estadunidense se prepara para um século XXI em que sua vontade não será mais a principal determinante para a resolução dos principais conflitos globais. Talvez isso tenha colocado a sociedade americana no divã atual sobre suas prioridades econômicas e políticas. É evidente que a precarização das relações trabalhistas, o debate sobre o direito ao aborto e ao acesso universal à saúde interferiram nas chances de Kamala Harris à presidência. Porém, é premente a reconfiguração do sistema internacional nos quase 100 anos de domínio estadunidense sobre as relações internacionais, e o público estadunidense demonstrou sua insatisfação sobre a atual administração democrata na condução das guerras na Ucrânia e na Palestina.

O forte crescimento asiático provoca um reequilíbrio sistêmico das relações de poder, que afetaram as eleições à medida que o debate sobre isolacionismo e intervencionismo volta à baila. Antes da Primeira Guerra, era comum presidentes serem eleitos com o discurso de não se envolver em conflitos internacionais como prescrevia os pais fundadores. De 13 colônias, porém, os Estados Unidos viriam a se tornar uma república cujo sucesso econômico se refletiria em capacidade militar, principalmente no século XX. Esse excedente de poder foi utilizado para levar democracia e, principalmente, capitalismo liberal para a maior parte do mundo. Basta ver o sucesso desse modelo no Japão e na Europa ocidental. Verdade também que colecionou algumas derrotas, como o Vietnã e Somália. A manutenção do sistema de invasões que se acentuaram para fora da América a partir do fim da Segunda guerra mundial e que teve novo ímpeto pós-guerra fria entra agora em declínio. A ascensão dos BRICS e, em especial, da China promove a reavaliação dos custos relativos na ajuda estadunidense a parceiros tradicionais, como os países que formam a OTAN. Partindo de uma visão construtivista, os Estados Unidos estão numa fase intensa de refazimento dos seus lações geopolíticos.

Trump é um isolacionista que põe em cheque a estratégia de democratas e republicanos no último século. Não há mais dinheiro para financiar guerras com parcos resultados, e o futuro presidente percebeu isso antes de qualquer outro. O desafio é conciliar gastos públicos crescentes, para uma população cada vez mais precária pelo modelo neoliberal atual, com o desejo que a mesma população tem sobre corte de impostos. Esse paradoxo leva a um retraimento na presença dos Estados Unidos no mundo, causado tanto pela ascensão asiática quanto pela necessidade, ou melhor dizendo, incapacidade de manutenção da hegemonia dos Estados Unidos a nível global. Por isso a estratégia de renacionalizar a produção de bens e, retoricamente, atacar a China. A tradicional culpabilização do outro, interno e externo, compõe a fórmula da maioria dos partidos de extrema-direita. A histeria contra imigrantes e o avanço chinês foram capturados por Trump como dado presente e difuso na sociedade americana. Com o apoio da Fox News e de redes-sociais, como o X, antigo Twitter, o sentimento de medo foi explorado para obter a vitória através da classe trabalhadora, que se agarrou ao Partido Republicano, remodelado pelo próximo presidente, como última alternativa ao perigo iminente.

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