VIDA LONGA PARA O CAEV-100 ANOS!
- ogladio2024
- 10 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Ex-aluno graduado pela Faculdade de Direito da UFF e tendo a honra de outrora
haver integrado o CAEV, entre os anos de 1982 e 1985, eleito por dois mandatos, diretor e secretário-geral (vice-presidente por remanejamento interno), é com muita alegria e emoção que escrevo estas breves linhas para a revista comemorativa do centenário de nosso centro acadêmico, comemorado em 12 de maio de 2024.
Muito tempo se passou, duas ditaduras (Estado novo 1937/1945) e Ditadura militar(1964/1984) assim como diversas tentativas de golpes de Estado, como recentemente em 8 de janeiro de 2024, mas o nosso CAEV permanece de pé e firme, tanto na memória daqueles que, como eu, participaram de sua longa trajetória, seja pelo presente igualmente de lutas, conforme tenho o prazer de sempre ter notícias, mesmo à distância, das diversas lutas reivindicatórias que segue travando, atividades acadêmicas e culturais, sendo, na recente quadra histórica, após a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, um das entidades protagonistas da luta antifascista no Brasil. Parabéns CAEV!!
Em breve retrospectiva, em relação aos tempo que atuei na entidade, tendo ingressado na faculdade em 1981, recordo-me da luta pela implementação do escritório modelo, na década de 80, o primeiro projeto de CAJUFF que formulamos a partir de seminário no CAEV, com proposta tanto para assistência jurídica individual, como também para assessoria aos movimentos sociais; Lembro-me da luta por eleições diretas para diretor e reitor; a magnífica luta nacional pelas “diretas já”, em que registro ter a faculdade de Direito da UFF sediado o Primeiro Comitê pelas “ Diretas Já” na UFF, em 1984, composto por professores, estudantes e servidores, cujo lançamento deu-se em nosso auditório principal, em noite de casa cheia de esperanças e anseios por um Brasil democrático e justo. Não posso deixar de aqui registrar, que ainda entre os anos 1981 e 1982, nossos banheiros ainda eram infelizmente pichados com frases do CCV (Comando de Caça aos Comunistas), tendo eu mesmo testemunhado meu nome, assim como o do colega Onir de Araujo e do querido Casado, também dirigentes do CAEV, pichados em vermelho com a seguinte frase: “deixe sua faculdade limpa, matando um comunista por dia”!! Aquilo me doeu muito e ainda dói relembrar quanto ódio a extrema-direita desde aqueles tempos propagava contra os que defendiam o fim da ditadura militar, como, ademais, segue fazendo na atualidade ao pregar a intervenção militar, “poder moderador das forças armadas”...
Lembro-me também que sediamos o Encontro Nacional de Estudantes de Direito, quando integrávamos a então Secretaria Nacional de Direito da UNE, que foi, na década de 80, de certo modo, a precursora da atual Federação Nacional de estudantes de Direito, que igualmente conta com grande participação do CAEV. Não posso me esquecer que durante todo o período no qual estive na faculdade, lutamos ininterruptamente pelo fim do regime militar, pela defesa da memória de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, aluno de nossa faculdade assassinado e desaparecido em 1974 pela ditadura; Registro que trouxemos à Faculdade o grande jurista e escritor Roberto Lyra Filho, Eminente Catedrático da UNB(falecido) para um seminário sobre direito alternativo, em um sábado ensolarado, em que comparecemos, (ainda que em menor quantidade de alunos), para ouvir o mestre da defesa do Direito voltado para os debaixo, os pobres e oprimidos. Eram os tempos da Revista “Direito achado na Rua”, “o que é Direito?” “a quem afinal serve o Direito”, sempre questionávamos ! E registro também que o professor José Geraldo de Sousa Junior, ex-reitor da UNB, nos encantava e cativava intelectualmente com uma perspectiva do Direito enquanto instrumento de mudança social, transformação em favor da justiça em prol da maioria, e não como sustentação do sistema das elites. Como visto, eram tempos de muitos sonhos! Mas sem perder a noção da realidade, motivo pelo qual realizávamos todas estas atividades, fazíamos política estudantil, defendíamos a democracia e a justiça social, por entender que mudar o mundo era possível e que o Direito tinha seu papel e lugar nesta missão civilizatória. E digo que muitos de nós que passamos pelo CAEV, felizmente continuamos assim a pensar, atuando hoje em diversas outras entidades, OAB, IAB, sindicatos, Academia, MST, partidos políticos progressistas, movimentos de direitos humanos e lutas sociais diversas. E sobretudo na luta antifascista, tão necessária atualmente!
Antes de terminar, quero registrar aqui alguns nomes de ex-integrantes do CAEV no meu período de militância na entidade, (pedindo desde já desculpas antecipadamente por eventual lapso de memória), mas não poderia deixar de citar os nomes de Laíze Helena(falecida), Onir de Araújo, Sergio Santana, Silvio Santana, Pedrazzi, Guaracy, Casado, Marcelo Chalreo, Carlos Heraldo, Licius, Raimundo, Calixto, Almir e Paulo de Tarso. E, em relação ao corpo docente, não posso deixar de citar o falecido Professor João Luiz Duboc Pinaud, Advogado, ex-juiz cassado pela ditadura e também ex-professor da Faculdade de Direito da UFF, que muito nos apoiava e encorajava em nossas lutas, dentre outros professores.
Vida longa para o CAEV !! Despeço-me por aqui, agradecendo imensamente a oportunidade de publicar estas palavras de memória, mas também de esperança no presente e no futuro, no sentido de que, sim, alcançaremos a realização de nossos sonhos de justiça social, igualdade, liberdade, através da luta coletiva, sendo certo que, através do trabalho cotidiano que desenvolvem atualmente no CAEV, nos sentimos representados e estimulados, como ex-integrantes do CAEV, a seguir também lutando nesta etapa mais adiantada de nossas vidas. Sem perder a esperança.
Aderson Bussinger Carvalho, 61, Advogado Sindical, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFF, Diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e vice-presidente da Comissão de Justiça de Transição da OAB-RJ. Ex-integrante do CAEV . É também declarado oficialmente Anistiado Político por Ato da Comissão Nacional de Anistia, em 2023, por perseguições e detenção arbitrária sofridas enquanto estudante da UFF.
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